Como não repetir palavras no meu texto?
Esta pergunta martela na cabeça do redator, por isso trouxemos alguns esclarecimentos sobre isto. O texto ficou um pouco grande, mas, acredite, é muito útil. Vamos, lá?
Sinônimo: Ao contrário do que muita gente pensa, sinônimos não são palavras com o mesmo sentido. Na verdade, são termos com sentidos diferentes, mas que em alguns contextos assumem significados equivalentes. Por exemplo, a palavra furto e roubo não denotam a mesma coisa no âmbito jurídico, entretanto é possível que em alguns contextos sejam sinônimos. Um outro exemplo bastante conhecido foi o tema da redação do Enem de 2017, envolvendo a polêmica entre as palavras surdez e “deficiente auditivo”, o que levou o MEC a aceitar as duas formas, mesmo semanticamente não se tratando da mesma definição. Logo, esta realidade nos ensina que podemos e devemos usar sinônimos, desde que avaliemos o contexto.
Hiperônimos são palavras cujos significados englobam outros significados, por isso são chamados de vocábulos genéricos. Uma boa amostra é o termo ser humano, que pode se referir a homens, mulheres, crianças, idosos, jovens, já que todos são humanos. Assim, afirmamos que expressão ser humano é um hiperônimo.
Hipônimos são palavras com significação mais específica, por isso são chamados de vocábulos restritos. Por exemplo, os termos homem, mulher, criança, jovem são hipônimos da palavra ser humano.
Você percebeu que hiperônimo e hipônimo estão interligados? Que um é o contrário/complemento do outro? Observe como eles se relacionam na construção do texto abaixo e ajudam a evitar repetição:
Leia Armitage, 7, viveu em silêncio total durante seus dois primeiros anos de vida. Hoje, graças a uma cirurgia pioneira no cérebro e a anos de terapia, a menina britânica conseguiu descobrir - e usar - a própria voz. O pai de Leia, Bob, lembra-se do momento em que descobriu que sua filha bebê tinha um tipo raro de surdez profunda. A criança não tinha o nervo auditivo, o que significa que nem mesmo aparelhos auditivos ou implantes cocleares poderiam ajudá-la.
(Texto adaptado da reportagem do site G1, publicado no dia 22/04/2019)
No texto acima não foram utilizados sinônimos, mas palavras genéricas (hiperônimos) para se referir à palavra específica Leia (hipônimo).
Pronomes são termos que funcionam para substituir o “nome”, logo podem e devem ser utilizados, sobretudo os pessoais, possessivos e demonstrativos. A única condição para seu uso é o cuidado com as regras gramaticais e o duplo sentido (ambiguidade) que alguns deles podem ocasionar, caso não seja analisado com calma. Vejamos um exemplo:
"O celular se tornou um grande aliado do homem, mas esse nem sempre realiza todas as suas tarefas."
Observe que nessa sentença os pronomes esse e suas podem se referir tanto ao homem quanto ao celular, gerando duplo sentido. Outros pronomes precisam ser analisados com mais cautela, pois seu uso é bastante restrito, são eles: onde, o próprio, a própria, o mesmo, a mesma.
A elipse é a falta ou omissão de um elemento habitualmente presente, cuja ausência é premeditada pelo autor, ou seja, ela está ausente porque não compromete a interpretação. Vejamos abaixo:
“Ele gosta de música, eu de viagens”.
Considere que na oração acima, não foi preciso repetir o verbo gostar, ele está suprimido. Esta estratégia é muito recorrente em textos, principalmente para omitir os pronomes, usando apenas o verbo para indicar a pessoa que fala, como no caso:
“Escrevo este texto”.
O verbo no presente do indicativo “escrevo”, na primeira pessoa, já induz o leitor que se trata de um eu.
Observação: A elipse é uma figura de linguagem e não é, em si, um recurso de substituição de palavras, pois seu objetivo é omitir e não substituir. Entretanto, é um recurso para evitar a repetição de vocábulos.
Em suma, nossa análise de hoje indica o seguinte: antes de repetir um termo no texto, certifique-se que já utilizou todas as estratégias propostas acima, caso tenha percebido que sim, fique à vontade para repetir a palavra no texto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SANTOS, Fernando Jorge dos. Elipse Nominal em português e em francês. Porto: Faculdade de Letras, 1998.
PEREIRA, Paulo Ricardo Soares; REINALDO, Maria Augusta Gonçalves. O comportamento dos pronomes relativos na organização sintático-semântica do texto em redações do Enem. In: IX Seminário Nacional sobre Ensino de Língua Materna e Estrangeira e de Literatura. Campina Grande- PB. Disponível em: <http://2015.selimel.com.br/wp-content/uploads/2016/03/Paulo-Ricardo-gt-20.pdf>;
SANT’ANNA, Simone; SILVA, Fernanda Gomes da. A semântica lexical e as relações de sentido: sinonímia, antonímia, hiponímia, hiperonímia. In: Círculo Fluminense de Estudo Filológicos e Linguísticos. Rio de Janeiro-RJ: Cifefil, 2009. Disponível em: <https://www.filologia.org.br/xiiicnlf/03/03.pdf>.